maio 08, 2013





Hidrelétricas podem afetar sistema hidrológico do Pantanal



O projeto de construção de mais 87 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na Bacia do Alto Paraguai, em discussão atualmente, pode afetar a conectividade do planalto – onde nasce o rio Paraguai e seus afluentes – e a planície inundada do Pantanal – por onde as águas desses rios escoam –, dificultando o fluxo migratório de peixes e outras espécies aquáticas e semiaquáticas pelo sistema hidrológico. O alerta foi feito por pesquisadores durante o terceiro evento do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, que teve como tema o Pantanal. O evento foi realizado no dia 18 de abril, na sede da FAPESP.
De acordo com José Sabino, professor da Universidade Anhanguera-Uniderp, o impacto das PCHs já existentes na região da Bacia do Alto Paraguai não são tão grandes porque, em geral, baseiam-se em uma tecnologia denominada “a fio d’água” – que dispensa a necessidade de manter grandes reservatórios de água.
A somatória das cerca de 30 PCHs existentes com as 87 planejadas, no entanto, pode impactar a hidrologia e a conectividade das águas do planalto e da planície da Bacia do Alto Paraguai e dificultar processos migratórios de espécies de peixes do Pantanal, alertou o especialista. “A criação dessas PCHs pode causar a quebra de conectividade hidrológica de populações e de processos migratórios reprodutivos, como a piracema, de algumas espécies de peixes”, disse Sabino.
Durante a piracema, o período de procriação que antecede as chuvas do verão, algumas espécies de peixes, como o curimbatá (Prochilodus lineatus) e o dourado (Salminus brasiliensis), sobem os rios até as nascentes para desovar. Se o acesso às cabeceiras dos rios for interrompido por algum obstáculo, como uma PCH, a piracema pode ser dificultada. “A construção de mais PCHs na região do Pantanal pode ter uma influência sistêmica sobre o canal porque, além de mudar o funcionamento hidrológico, também deve alterar a força da carga de nutrientes carregada pelas águas das nascentes dos rios no planalto que entram na planície pantaneira”, disse Walfrido Moraes Tomas, pesquisador do Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (CPAP) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Mato Grosso do Sul, palestrante na conferência na FAPESP.
“Isso também poderá ter impactos nos habitats de espécies aquáticas ou semiaquáticas”, reiterou Tomas. De acordo com o pesquisador, o Pantanal é uma das áreas úmidas mais ricas em espécies do mundo, distribuídas de forma abundante, mas não homogênea, pela planície pantaneira. Alguns dos últimos levantamentos de espécies apontaram que o bioma possui 269 espécies de peixes, 44 de anfíbios, 127 de répteis, 582 de aves e 152 de mamíferos.
São necessários, no entanto, mais inventários de espécies para preencher lacunas críticas de conhecimento sobre outros grupos, como o dos invertebrados – sobre os quais ainda não há levantamento sobre o número de espécies –, além de crustáceos, moluscos e lepidópteros (ordem de insetos que inclui as borboletas), que ainda são pouco conhecidos.
“Uma iniciativa que vai nos dar uma grande contribuição nesse sentido será o programa Biota Mato Grosso do Sul, que começou ser implementado há três anos”, disse Tomas. Inspirado no BIOTA-FAPESP, o programa Biota Mato Grosso do Sul pretende consolidar a infraestrutura de coleções e acervos em museus, herbários, jardins botânicos, zoológicos e bancos de germoplasma do Mato Grosso do Sul para preencher lacunas de conhecimento, taxonômicas e geográficas, sobre a diversidade biológica no estado.
Para atingir esse objetivo, pesquisadores pretendem informatizar os acervos e coleções científicas e estabelecer uma rede de informação em biodiversidade entre todas as instituições envolvidas com a pesquisa e conservação de biodiversidade do Mato Grosso do Sul.
“Começamos agora a fazer os primeiros inventários de espécies de regiões-chave do estado e estamos preparando um volume especial da revista "Biota Neotropica" sobre a biodiversidade de Mato Grosso do Sul, que será um passo fundamental para verificarmos as informações disponíveis sobre a biota do Pantanal e direcionar nossas ações”, disse Tomas. “Diferentemente do Estado de São Paulo, que tem coleções gigantescas, Mato Grosso do Sul não dispõe de grandes coleções para fazermos mapeamentos de diversidade. Por isso, precisaremos ir a campo para fazer os inventários”, explicou.
Segundo Tomas, das espécies de aves ameaçadas, vulneráveis ou em perigo de extinção no Brasil, por exemplo, 188 podem ser encontradas no Pantanal. No entanto, diminuiu muito nos últimos anos a ocorrência de caça de espécies como onça-pintada, onça-parda, ariranha, arara-azul – ave símbolo do Pantanal – e jacaré.
E não há indícios de que a principal atividade econômica da região – a pecuária, que possibilitou a ocupação humana do bioma em um primeiro momento em razão de o ambiente ser uma savana inundada com pastagem renovada todo ano – tenha causado impactos na biota pantaneira. “Pelo que sabemos até agora, nenhuma espécie da fauna do Pantanal foi levada a risco de extinção por causa da pecuária”, afirmou Tomas. Já a pesca – a segunda atividade econômica mais intensiva no Pantanal – pode ter impactos sobre algumas espécies de peixes.
Isso porque a atividade está focalizada em 20 das 270 espécies de peixes do bioma pantaneiro, em razão do tamanho, sabor da carne e pela própria cultura regional. Entre elas, estão o dourado, o curimbatá, a piraputanga (Brycon hilarii), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e a cachara (Pseudoplatystoma fasciatum) – um peixe arisco e raro, encontrado apenas em rios como Prata e Olho D’água, que pode chegar a medir 1,20 metro e pesar 40 quilos. “Há indícios de que, pelo fato de a pesca no Pantanal ser direcionada a algumas espécies, a atividade possa reduzir algumas populações de peixes”, disse Sabino.
Além de Sabino e Tomas, o professor Arnildo Pott, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), de Campo Grande, também proferiu palestra, sobre a origem, evolução e diversidade da vegetação do Bioma Pantanal. 
Os pesquisadores também chamaram a atenção para o fato de que, atualmente, apenas cerca de 5% do Pantanal está protegido por unidades de conservação. E que muitas das espécies de animais da região, como a onça-pintada, a ariranha e a arara-azul, por exemplo, não são protegidas efetivamente, porque ficam fora dessas unidades de conservação. “A conservação de espécies ameaçadas no Pantanal requer estratégias mais amplas do que apenas a implantação ou gestão das unidades de conservação”, destacou Tomas. “São necessárias políticas de gestão de bacias hidrográficas e de remuneração por serviços ecossistêmicos para assegurar a conservação de espécies ameaçadas.”
Organizado pelo Programa BIOTA-FAPESP, o Ciclo de Conferências 2013 tem o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento do ensino de ciência. A quarta etapa será no dia 16 de maio, quando o tema será “Bioma Cerrado”. Seguem-se conferências sobre os biomas Caatinga (20 de junho), Mata Atlântica (22 de agosto), Amazônia (19 de setembro), Ambientes Marinhos e Costeiros (24 de outubro) e Biodiversidade em Ambientes Antrópicos – Urbanos e Rurais (21 de novembro). 
Estudo propõe monitoramento dos ecossistemas costeiros marinhos

Pesquisadores de países latino-americanos – incluindo o Brasil – e europeus publicaram um artigo (Global environmental changes: setting priorities for Latin American coastal habitats) na revista "Global Change Biology" no qual dão uma série de recomendações para o desenvolvimento de uma agenda científica e política sobre os impactos das mudanças ambientais e climáticas globais e regionais em ecossistemas costeiros marinhos na América Latina.
De acordo com os autores, na região há uma grande variedade de habitats bentônicos (formados por organismos que vivem nos substratos marinhos), muitos dos quais com grande biodiversidade e prioritários para ações de conservação (hotspots). Entre eles, há enormes camadas de rodolitos (recifes de algas calcárias), além de manguezais, bancos de gramíneas marinhas e recifes de coral no oceano Atlântico Tropical com um grande número de espécies endêmicas.
Esses habitats marinhos são extremamente importantes para os moradores de áreas costeiras da América Latina, que dependem da qualidade ambiental marinha para o desenvolvimento de atividades econômicas como a pesca e o turismo. Segundo os autores do estudo, é preciso protegê-los, principalmente em um momento de rápidas mudanças ambientais e climáticas e ante problemas sociais, como a urbanização descontrolada na região, que se somam a pressões como poluição aquática, sobrepesca e perda ou fragmentação de habitats.
“Há vários grupos que estudam os impactos das mudanças climáticas, em especial no Brasil. Mas isso não ocorre na mesma escala em outros países das Américas do Sul e Central”, disse Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e primeiro autor do artigo. Turra coordena atualmente a Rede de Monitoramento de Habitats Bentônicos Costeiros (ReBentos), apoiada pela FAPESP.
O objetivo do projeto, lançado no início de 2011, é instituir uma rede integrada de estudos dos habitats bentônicos do litoral brasileiro a fim de detectar efeitos das mudanças ambientais regionais e globais sobre esses organismos e iniciar uma série histórica de dados sobre a biodiversidade bentônica na costa brasileira. “A ideia é estabelecer sítios de monitoramento ao longo da costa brasileira, a serem observados durante muito tempo”, explicou Turra. A rede reúne 120 bentólogos de 14 estados brasileiros, voltados ao estudo dos impactos das mudanças ambientais e climáticas em habitats costeiros marinhos.
Na avaliação de Turra e de outros autores do artigo, a ReBentos e outras redes similares na América Latina, como o Grupo Sul-Americano de Pesquisa de Ecossistemas Costeiros (Sarce), representam iniciativas de monitoramento contínuo de habitats de ecossistemas costeiros marinhos que devem ser replicadas em outros países da região, para preencher lacunas críticas no conhecimento sobre o impacto das mudanças climáticas.
“A aplicação sistemática de protocolos padronizados de monitoramento, adaptados para cada habitat, escala, nível de organização e diferentes condições oceanográficas é essencial para documentar a degradação, fragmentação ou perda de habitats costeiros marinhos”, destacam os autores no artigo. “É preciso espalhar essas ações experimentadas e testadas a outros países da região por meio de projetos locais já em curso e construir uma base de dados com acesso aberto a informações sobre o estado atual e previsões de mudanças em habitats em níveis local, regional e global”, indicam.
Segundo os autores do estudo, os esforços iniciais de monitoramento de habitats costeiros devem ser centrados em locais que já sofrem pressões prejudiciais imediatas, como os recifes de coral do Caribe nos quais se registra o branqueamento (morte dos pólipos responsáveis pela formação do recife), associado ao aquecimento dos oceanos.
Já a acidificação (diminuição do pH e aumento da acidez) dos oceanos não só ameaça degradar as maiores camadas de rodolitos do mundo, existentes na costa brasileira, mas pode reduzir a capacidade de organismos marinhos, como crustáceos, mexilhões e ostras, de produzirem conchas – colocando em risco a aquicultura e a segurança alimentar de comunidades ribeirinhas, salientam os autores.
Os pesquisadores fazem a ressalva, no entanto, de que são necessários estudos para comprovar a associação desses problemas ambientais às mudanças climáticas. “Discutimos essas questões teoricamente, porque ainda não temos muita base do diagnóstico inicial – o chamado baseline – dos ecossistemas marinhos para entender como eles eram e constatar as mudanças pelas quais passam. Por isso, precisamos acompanhar esses organismos por muito tempo”, disse Turra.
Outra preocupação dos especialistas é o impacto de eventos climáticos extremos – que tendem a ser mais frequentes com as mudanças climáticas globais – sobre ecossistemas marinhos (como manguezais) com papéis importantes na proteção da linha de costa, sujeitas ao regime de marés e à energia das ondas.

abril 22, 2013


Peixes japoneses sobrevivem a viagem de 8 mil km em porão de navio arrastado pelo Pacífico após tusunami

REUTERS SEATTLE
 Elaine Porterfield - abril/2013



(Reuters) - Cientistas estão confusos sobre como um grupo de pequenos peixes nativos do Japão sobreviveram a uma viagem pelo Oceano Pacífico em um barco arrastado pelo tsunami de 2011, levado pela maré no mês passado à costa do estado de Washington.
O cardume de peixes bicudo listrado (Oplegnathus fasciatus) - cinco ao todo - foi descoberto submerso no porão de um barco de pesca batizado de Sai-shou-maru, em Long Beach, no sudoeste de Washington.
A embarcação, que estava encalhada, teve sua origem confirmada esta semana e veio da região norte do Japão, devastada pela imensa onda gerada pelo terremoto de Fukushima, em março de 2011.
Outros barcos levados pelo tsunami já foram encontrados ao longo da costa do Pacífico no noroeste dos EUA e no Alasca, assim como pedaços de ancoradouros e grandes quantidades de outros detritos. Mas os peixes encontrados a bordo do Sai-shou-maru são os primeiros vertebrados, até onde se sabe.
Biólogos marinhos que estudam o fenômeno estão intrigados sobre como os peixes bicudo listrado, naturais de águas mais quentes e rasas do sul japonês, acabaram como clandestinos vivos no porão do barco, e como eles suportaram uma viagem de dois anos através do oceano.
"É bastante notável", disse Curt Hart, um porta-voz do Departamento de Ecologia do Estado de Washington, à Reuters. "Todo mundo ficou muito impressionado ao saber que os peixes sobreviveram por dois anos naquele porão." Os peixes foram aparentemente arrastados junto com o barco uma vez que o mesmo foi "levado" da costa do Japão para o Pacífico.
Os cientistas supõem que os peixes fizeram do barco a sua casa durante a maior parte da viagem, uma vez que o barco ficou à deriva de cabeça para baixo e parcialmente submerso, alimentando-se de outros organismos que se incrustaram ou não à embarcação invertida. Outra hipótese seria de os peixes terem ficado presos no porão do barco quando o vento ou ondas emborcou-o, disse Hart.

ALIMENTAÇÃO MISTERIOSA
O meio do oceano Pacífico é muito escasso em nutrientes quando comparamos com as águas costeiras, levantando questões de como os peixes encontraram alimento suficiente para sobreviver durante a viagem, disse Jeff Adams, um especialista da Washington Sea Grant (agência de apoio à investigações marinhas).
Com cerca de 6 centímetros de comprimento o peixe bicudo listrado, assim nomeado por apresentar boca saliente e listras em preto-e-branco ao longo do corpo, foi a mais surpreendente das cerca de 50 espécies de organismos marinhos que pegou carona por todo o Pacífico em um barco. Várias outras espécies de organismos já foram encontrados, entre eles diferentes espéciesde algas, anêmonas, caranguejos, vermes, crustáceos e moluscos marinhos.
Muitas dessas espécies eram consideradas espécies exóticas (não nativas), e todas foram tratadas como potencialmente invasoras - capazes de afastar as espécies nativas, perturbando o equilíbrio ecológico natural, caso escapassem para o meio ambiente e se reproduzissem.
Como medida de precaução, as autoridades estatais rapidamente removeram o Sai-shou-maru da costa americana antes que amostras de organismos fossem coletadas para estudo, e o barco raspado e desinfectado com vapor, Hart disse.
Quatro dos cinco peixinhos encontrados vivos no barco em 22 de março já morreram, e o espécime sobrevivente solitário foi transferido para um aquário em Seaside, Oregon.
O Sai-shou-maru não é a única Arca de Noé japonesa com potenciais espécies invasoras transportadas pelo tsunami até a costa dos EUA. Vários outros barcos japoneses foram encontrados em terra desde o ano passado em Washington, Oregon e Califórnia, e um navio de pesca foi encontrado à deriva perto do Alasca mas foi afundado pela Guarda Costeira.
Dezenas de espécies exóticas e potencialmente invasoras - além das que pegaram carona a bordo do Sai-shou-maru - foram encontrados previamente ligado a dois grandes pedaços de piers que foram carregados, um até Oregon e outro até a costa de Washington, disse Hart.

(Editing by Steve Gorman, Cynthia Johnston and Patrick Graham)
O GENOMA DESCODIFICADO DO CELACANTO 
REVELA UM PEIXE EM LENTA EVOLUÇÃO
Nicolau Ferreira - abril/2013


Celacanto (1,75m e 77kg) capturado em 2001
por pescadores quenianos. 
Simon Maina/AFP
Passaram-se quase 75 anos desde a sua descoberta na África. Agora uma equipe internacional sequenciou o seu genoma, que abre uma janela até ao passado.
Há um novo capítulo na história extraordinária de um peixe extraordinário. O genoma de uma das duas espécies vivas de Celacanto foi sequenciado e mostra que este peixe possui uma longa e continua história a evoluir. Mas uma evolução muito lenta revela o artigo publicado na revista Nature.
"Descobrimos que os genes estão evoluindo muito mais lentamente do que em qualquer outra espécie de vertebrado", diz Jessica Alföldi, investigadora do Instituto Broad - EUA. A cientista foi uma das autoras do artigo que reuniu o trabalho de 40 institutos em 12 países. Mas as conclusões dizem também respeito à própria evolução dos vertebrados que passaram da água para terra firme.
Os celacantos existem há cerca de 400 milhões de anos. Testemunharam a conquista da terra pelos vertebrados, viram a ascensão dos anfíbios e répteis, e já eram velhos quando os dinossauros surgiram há cerca de 230 milhões de anos.
Neste peixe, as nadadeiras possuem ossos e carne, e fazem lembrar os membros dos tetrápodes -  vertebrados terrestres, incluindo os humanos. Uma das características essenciais na passagem dos vertebrados da água para a terra foi o desenvolvimento de membros capazes de os sustentar em terra firme. Por isso, as nadadeiras especiais dos celacantos fizeram deles um potencial antepassado dos tetrápodes, que surgiram há mais de 365 milhões de anos.
O primeiro fóssil de um celacanto foi descoberto em 1838. Nos cem anos seguintes, e depois de muitos mais encontrados, fez-se a história de um peixe que teria desaparecido com os dinossauros, há 65 milhões de anos - o fóssil mais recente tinha 70 milhões de anos.
Em Dezembro de 1938, no litoral de East London, África do Sul, foi encontrado um celacanto que tinha acabado de ser pescado. Afinal, não estava extinto. A espécie recebeu o nome Latimeria chalumnae, em homenagem a Marjorie Courtenay-Latimer, do Museu daquela cidade sul-africana, que o encontrou. A espécie tornou-se o arquétipo do "fóssil vivo", um termo definido pelo pai da teoria da evolução. Charles Darwin entendia os fósseis vivos como os sobreviventes de um grupo de espécies que, numa dada altura da história da Terra, tinha sido abundante.
O aspecto ancestral do celacanto tornou a ideia de fóssil vivo ainda mais visual. Nas décadas seguintes, com a descoberta de aproximadamente 200 indivíduos, foi definido que este peixe vivia a algumas centenas de metros de profundidade na região Oeste do Índico, entre Madagáscar e Moçambique. Na década de 1990, outra espécie de celacanto foi encontrada perto da Indonésia.
Só agora, passados quase 75 anos, é que os 3000 milhões de letras de ADN dos 48 cromossomas do genoma da Latimeria chalumnae foram sequenciados. O resultado mostrou a evolução lenta. Sabe-se que para os genes Hox, que definem o desenvolvimento do corpo dos vertebrados, as duas espécies de celacanto, separadas há mais de seis milhões de anos, estão a divergir 11 vezes mais devagar do que os genes Hox nos humanos e chimpanzés.
"Fala-se muitas vezes de como as espécies mudam ao longo do tempo", relata Kerstin Lindblad-Toh (Instituto Broad). "Mas ainda há alguns locais do Planeta onde os organismos não têm de mudar. É provável que o Celacanto esteja muito especializado neste ambiente extremo, específico e imutável."
No entanto, Jessica Alföldi considera que as mudanças, ainda que lentas, põem em causa o status de fóssil vivo. "Não é um fóssil vivo, é um organismo vivo. [O celacanto] não vive numa bolha temporal, vive no nosso mundo e isso torna fascinante descobrir que os seus genes estão evoluindo mais lentamente do que os nossos."
Ainda assim, o seu genoma revelou novos dados sobre o nosso próprio passado. A equipe comparou porções de material genético das duas espécies de Celacanto com o dos peixes pulmonados, o que os torna potenciais ancestrais dos tetrápodes. Os cientistas queriam identificar o grupo mais próximo do animal que veio da água para a terra. Apesar dos Celacantos estarem próximos desses ancestrais, os peixes pulmonados estão ainda mais perto.
O genoma do Celacanto serviu ainda para procurar genes que surgiram ou que foram alterados na transição para a terra. A equipe verificou que os tetrápodes ganharam genes que os ajudaram a desenvolver o olfato. Já em relação aos genes Hox, a comparação com o Celacanto permitiu verificar que foram mudando durante a passagem para terra, permitindo a adaptação ao novo ambiente.
Chris Amemiya, outro autor, do Instituto de Investigação Benaroya - Seattle/EUA, diz que as novidades não acabam aqui: "É o início de muitas análises, em que o Celacanto pode nos ensinar mais sobre a emergência dos vertebrados terrestres."

abril 09, 2013



AQUÁRIO DE TOKYO ADQUIRI UM CASAL DE PEIXES DE SANGUE TRANSPARENTE


Tokyo Sea Life Park colocou 2 exemplares de Ocellated icefish (no Brasil, peixe de gelo catarino) em exibição. Esta espécie é altamente incomum no reino animal, pois tem sangue transparente, ao invés de vermelho.
O icefish (Chionodraco rastrospinosus) é proveniente da Antártida. Os dois exemplares expostos no Tokyo Sea Life Park, que são semelhantes ao mostrado na foto acima, foram encontrados e trazidos para o Japão por pescadores de krill e acredita-se serem os únicos exemplares expostos em um aquário público.
Aquarium fish has clear blood
By Valerie Loeb, Creative Commons
Estudos mostram que o sangue transparente deste peixe é devido a ausência de hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio ao corpo do animal e também pela coloração vermelha do sangue. Não está provado ainda como ele consegue sobreviver sem hemoglobina, apesar dos investigadores acreditarem que o seu grande coração combinado com plasma sanguíneo pode ajudar na circulação do oxigênio ao redor do corpo. Assim como o animal também pode ser capaz de absorver o oxigênio da água através da sua pele, uma vez que não possui escamas.
No início desse ano os 2 exemplares expostos no Tokyo Sea Life Park se reproduziram e os cientistas esperam que o casal de icefish e sua prole possam ajudar os pesquisadores a desvendar seus segredos.


abril 02, 2013


Aquário introduz atuns (Bluefin tuna) para "assustar" sardinhas preguiçosas.

Um aquário público no Japão está tendo um problema com suas sardinhas, que se tornaram tão acostumados ao seu ambiente seguro, que não se comporta mais como eles deveriam.

As 35 mil sardinhas do Aquário de Nagoya têm parado para formar o famoso "furacão de peixe", quando elas se reúnem para se alimentar. Uma visão surpreendente e uma grande atração para os visitantes (vídeo mostrando tornado ao final da matéria).

Esse comportamento do cardume é uma forma natural de defesa das sardinhas contra predadores. As únicas a realizar esse comportamento devido a Corrente do Kuroshio na costa do Japão, onde as rochas e outras formas de abrigo são escassos.

O aquário (14,0 x 5,0 m) também possui predadores vindos do mesmo habitat das sardinhas, porém, aparentemente, estes raramente se preocupam com as sardinhas, já que são muito bem alimentado pelos tratadores (staff).

Sardinhas rebeldes (= velhacas) começaram recentemente a romper com o resto do grupo e a nadar em uma parte diferente do tanque. Os tratadores (staff) acreditam que essas sardinhas "rebeldes" perceberam a improvável predação e esta vida fácil levou o grupo a mudar seu comportamento natural.

Segundo relatos, algumas dessas sardinhas começaram até mesmo a competir por alimentos com o Bonito - peixe muito maior e que no ambiente natural (selvagem) provavelmente as comeriam!

Diante disso, os tratadores do Aquário de Nagoya introduziram 11 exemplares de Atum (Bluefin tuna) no tanque onde estão as sardinhas na tentativa de forçá-las a voltar com seu comportamento natural normalmente.

Akira Ogushi, funcionário do Aquário, disse: "Levará cerca de uma semana para o atum se aclimatar. 
Quando eles começam a nadar em uma escola, colocam pressão sobre as sardinhas e todos nadam juntos, como uma grande escola".

O vídeo mostra o tornado de sardinhas no Aquário de Nagoya: 


Caso não consigam acessar pelo blog, tente o link: http://youtu.be/7nc9zgytAto