Domingo, 24 de outubro de 2010
Diários de Cuiabá - Edição nº 12847
Diários de Cuiabá - Edição nº 12847
Estiagem mais prolongada deve influenciar ecossistema aquático em MT, já que chuvas funcionam como primeiro sinal para peixes se reproduzirem
by DHIEGO MAIA
Da Reportagem
A duas semanas da vigência do defeso, as chuvas em Mato Grosso têm se mostrado desfavoráveis à reprodução dos peixes pelo atraso e pouco volume. No ecossistema aquático, a chuva funciona como um gatilho, que emite o primeiro sinal para o organismo do peixe, avisando que chegou a hora de se reproduzir.
Mato Grosso é um dos estados diretamente afetados pelo fenômeno La Niña, desordem de temperatura das águas do Oceano Pacífico, que empurra chuvas acima da média em algumas regiões deixando outras em extrema estiagem. De acordo com boletim meteorológico do Sistema de Proteção da Amazônia, as chuvas de outubro serão esparsas e de curta duração. A partir de novembro é que elas ganharão maior volume.
O baixo nível de três importantes rios que compõem as bacias hidrográficas de Mato Grosso é prova de que a transição entre a estiagem e o período chuvoso anda mais longa. O fenômeno não é exclusividade deste ano. Ele já se repete há alguns anos.
De acordo com o presidente da Federação dos Pescadores em Mato Grosso, Lindebergue Gomes Lima, os sinais já são visíveis. “O reservatório de Manso pede socorro. Sem poder liberar água, o peixe parou em Santo Antônio e não sobe porque não tem água”, revela.
Medições efetuadas pela Defesa Civil do Estado nos rios Cuiabá, Paraguai e Araguaia mostram que o nível de água cai consideravelmente a partir do mês de agosto vindo a se recuperar no mês de novembro.
Em São Félix do Araguaia, a régua de medição do rio Araguaia apontava, em junho deste ano, um nível médio de 3,22 metros. Em agosto, a média despencou para 2,38 metros. No rio Cuiabá, a média do nível do rio em julho alcançava 0,52 metro. Em agosto, o nível abaixou mais 10 centímetros (0,42 metro) e terminou setembro com média de 0,36 metro. O rio Paraguai, que possui volume e grande quantidade de pescado, obteve redução de nível do mês de julho para agosto de 30 centímetros, de 1,47 metro para 1,17. Em setembro a régua de medição mostrava situação ainda pior quando o nível estava na casa dos 1,01 metro.
A Defesa Civil classifica os dados como decorrentes de uma longa estiagem, não configurando ainda período de seca, quando o nível dos rios praticamente se esgota.
De acordo com a pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso, Lúcia Aparecida Mateus, o baixo volume dos rios coloca os peixes em risco. “O problema do rio mais baixo é que os peixes ficam vulneráveis à pesca predatória”, salienta. Os cardumes que nadam contra correntezas, saltam paredões e percorrem grandes distâncias. Ao se aproximar de pontos mínimos de água se tornam presas fáceis porque se avolumam em locais rasos dando chance de captura a qualquer pessoa que estiver no rio.
A pesquisadora ainda aponta que não existem registros na literatura científica de desaparecimento de peixes relacionado com a falta de chuvas. A degradação do rio e a sobrepesca, associados, já têm, porém, provocado dificuldades na renovação do pescado. O problema se agrava ainda mais em períodos de longa estiagem. “Nós temos observado que a renovação do estoque não está acompanhando a retirada do pescado por conta do assoreamento e desmatamento das cabeceiras”, confirma.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) vai montar bases de fiscalização durante o defeso nos locais em que tradicionalmente a extração ilegal de peixe é maior. Segundo a Secretaria, 197 agentes de fiscalização de diversos órgãos ambientais será direcionados ao combater dos ilícitos ambientais no período.
MUDANÇA - Para próximo ano, existe a proposta de alteração do período da piracema com base em estudos e monitoramentos que vêm sendo realizados, unificando, inclusive, com o vizinho Mato Grosso do Sul. De acordo com a coordenadora de Fauna e Recursos Pesqueiros da Sema, Neuza Arenhart, desde 2004, o órgão vem realizando levantamentos nas Bacias do Rio Paraguai (Paraguai), Bacia Amazônica (Teles Pires) e Bacia do Araguaia-Tocantins (Araguaia). O objetivo é monitorar os aspectos reprodutivos dos peixes.
Os estudos vêm mostrando, que em outubro, mais de 50% das espécies de coros coletadas estavam em maturação, embora não signifique que estavam “maduros”, conforme Arenhart. Já a desova dos peixes ocorre entre os meses de dezembro e janeiro. “Em fevereiro, a maioria já estava esvaziada”, observa.
Além disso, levando em consideração o ciclo da chuva, a piracema é um processo que pode se alterar. “O baixo nível do rio em outubro, momento em que os peixes estão migrando em cardumes, propicia a pesca excessiva sobre as espécies”. (Colaborou Joanice de Deus)
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