março 25, 2011

Amazônia: Economia verde cresce com criação do pirarucu.

Amazonas produz 900 toneladas de pirarucu
 Pesca manejada em reservas, valor agregado e duas indústrias aquecem a economia verde do Amazonas
Manaus, 24 de Março de 2011
JORNAL ACRITICA

Ano passado Amazonas produziu 90 toneladas de pirarucu
Ano passado Amazonas produziu 90 toneladas de pirarucu (Divulgação)
De 2003 a 2011 o preço do kg do pirarucu, maior peixe de água doce do mundo, saltou de R$ 1,37 para R$ 5,75. O Estado do Amazonas saiu de uma produção de 60 toneladas, em 2002, para 900 toneladas, ano passado. Este desempenho extraordinário se deve a uma política de sustentabilidade, onde os pescadores se comprometem a capturar e abater somente as cotas necessárias do peixe, de acordo com a contagem fiscalizada pelas autoridades ambientais federais e estaduais nos lagos e áreas de rios, onde atuam comunidades especializadas na despesca da espécie.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (RDSM) é a maior produtora de pirarucu, na modalidade de manejo sustentável do Brasil. Em seus lagos e rios, localizados em uma área de 1.124.000 hectares, se encontra o maior sistema do Planeta de despesca de um peixe, que é considerado uma iguaria à semelhança do bacalhau da Noruega. Mas, neste caso, estamos falando de um ser amazônico de mais de 230 milhões de anos, segundo os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), dentre eles Adalberto Val, um dos maiores especialistas do mundo nesta espécie, a Arapaima gigas.

Rodadas
A qualidade de sua carne chamou atenção dos maiores mercados do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o Grupo Pão de Açúcar já virou freguês. Amanhã acontece em Manaus uma rodada de negócios entre os diretores desta rede com autoridades da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS), bem como com os líderes dos pescadores da RDSM, do Médio Juruá.
Nas negociações serão discutidos preços a ser praticados na compra da espécie, que será comercializado no Sudeste brasileiro. “Acreditamos que os preços vão beneficiar a todos, quem vive da pesca, o Pão de Açúcar e, principalmente, os clientes do varejo, que são os consumidores finais”, disse o presidente da ADS, Valdelino Cavalcante.
Com um número crescente de pescadores credenciados à despesca do pirarucu - em 2008 eram 2.500; em 2009 chegaram a 2.800; e em 2010 foram 3.800 -, nota-se um mercado aquecido. Isso tem permitido às autoridades do setor, como Rigoberto Pontes, engenheiro de pesca e chefe do Departamento da Cadeia Produtiva de Pescado da ADS, dizer que: “considerando os dados de cotas autorizadas nos últimos anos, estima-se que o potencial de produção de pirarucu manejado possa alcançar cerca de 30 mil animais, o que corresponderia a um volume de produção/captura em torno de 18 milhões de kg/ano”.
Mas o sucesso da cadeia produtiva do pirarucu se deve ao trabalho dos pescadores, que tiveram a dimensão da importância da despesca manejada e sustentável, com o objetivo de preservar os recursos naturais antes que eles acabassem.
Luiz Gonzaga Medeiros de Matos, 46, o “Luizão”, presidente da Colônia de Pescadores de Maraã, a Z-32, que tem 695 pessoas atuando em sete comunidades (São Francisco do Jaraqui; São José do Jaraqui; Fortalezas I, II , III ; Bom Futuro; e localidade do rio Japurá) conta que o processo de conscientização para o trabalho com cotas foi longo e difícil.
“Os geleiros pescavam com grandes arrastões, dizimando os peixes pequenos e acabando com os cardumes. Para que não fosse tudo arrasado tivemos que adotar as nossas medidas e, com a ajuda das autoridades da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS); da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS); da Sepror; do Instituto Mamirauá; e da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), conseguimos sair de uma posição de perdedores para a de ganhadores”, comentou Luizão.

Canoa refrigerada
O superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável, Virgílio Viana, disse que em 2010 foram investidos R$ 2,030 milhões na RDSM e que os pescadores da Colônia Z-32 foram contemplados com um flutuante de evisceração do pirarucu e a reserva recebeu 30 grandes canoas com geleiras, que permitem transportar os pirarucus em baixas temperaturas, o que preserva a qualidade da carne para a sua comercialização. Somente o Bolsa Floresta Renda desembolsou R$ 506 mil na RDSM.

Revolução social e econômica
De acordo com o titular da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), Eron Bezerra, os mercados interno e externo serão atendidos em suas demandas no que depender de tecnologia, beneficiamento e capacidade de logística no transporte acondicionado em barcos frigoríficos do pirarucu. Eron destacou que a construção das indústrias de “bacalhau” do Amazonas nas cidades de Maraã e Fonte Boa permitirá um salto qualitativo e quantitativo na cadeia pesqueira, com valor agregado. Segundo ele, a indústria de Maraã terá capacidade para 5 toneladas e a de Fonte Boa para 10.000 kg.
O secretário observou que levando em consideração o preço do pirarucu tratado a R$ 20, uma tonelada equivaleria a R$ 20 mil. Com 15 toneladas ao dia, se poderia chegar a um valor de aproximadamente R$ 7 milhões ao mês, o que corresponderia a algo próximo de R$ 84 milhões, ao ano. Ele destacou ainda que cerca de 2.500 pessoas trabalharão diretamente nas indústrias e que esse desempenho permitirá um novo patamar na qualidade de vida de milhares de famílias de pescadores, que não terão necessidade de migrar paras cidades à procura de emprego. “A cadeia pesqueira da Amazônia e, especialmente, do Amazonas, tem todas as condições de fazer uma revolução social e econômica na região”.

Iguaria na rota de exportação para os Estados Unidos
Com as projeções otimistas, o mercado teria uma maior quantidade de pirarucu em seu cardápio. O consumidor norte-americano também está interessado nesta iguaria. O frigorífico Friolins, de Manacapuru, através de uma parceria com a Noronha Pescados, de Pernambuco, vendeu 17 toneladas para os Estados Unidos da América.
Nesta transação, o custo médio do filé de pirarucu foi de US$ 9/kg, pouco mais de R$ 17. Especialistas estimam que o mercado americano demandará mais de 50 toneladas em curto prazo.
Segundo o empresário Fernando Lins, do frigorífico Friolins, a tendência é de uma melhor performance nas vendas para o mercado internacional, pela aceitação da carne com gosto sofisticado, que se parece com o melhor bacalhau do mundo. “Estamos nos preparando para aumentar as vendas aos EUA”.

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