agosto 20, 2015

DESCOBERTA: Nano Tetra

Um animal um pouco estranho, completamente transparente com um padrão de cor e forma única ", disse o ictiólogo Dr. Ralf Britz do Museu de História Natural de Londres  a partir de um pequeno exemplar do novo tetra que ele ajudou a identificar e dar o nome.
Cyanogaster noctivaga, the Blue-bellied Night Wanderer Tetra.
All images by Dr. Ralf Britz, Natural History Museum, London, UK.
Apelidado de "viajante noturno de barriga azul", Cyanogaster noctivaga - Cyanogaster significa "ventre/barriga azul" e noctivaga significa "andarilho/viajante noturno". Tem 17 milímetros de comprimento, e para além da sua "barriga" azul brilhante, tem olhos grandes, e focinho, boca e dentes de aparência incomum.
É apenas 7 milímetros mais longo do que o menor peixe do mundo, e parece surgir apenas à noite, porém a barriga azul brilhante de um peixe amazônico minúsculo chamou a atenção de uma equipe de cientistas, que percebeu que se tratava não apenas de uma nova espécie e sim de um novo gênero.
Britz trabalhou com os líderes da expedição Monica Toledo-Piza, George Mattox e Manoela Marinho da USP/SP, na expedição científica realizada em 2011, na descrição científica do peixe, recentemente publicada na revista Ichthyological Exploration of Freshwaters em 2013. Britz é um colaborador da AMAZÔNIA e um especialista de renome mundial em pequenos peixes.
Rio Negro, o maior afluente do rio Amazonas.
Ponto vermelho indica o local onde
o novo gênero foi coletado.
O peixe de ventre-azul (barriga-azul) foi descoberto no rio Negro, o maior afluente do rio Amazonas. Esta área da bacia amazônica é provavelmente uma das mais exploradas, sendo assim encontrar não só uma nova espécie, mas um novo gênero também, foi uma grande surpresa.
A equipe só poderia encontrar o peixe de ventre-azul em um local do rio Negro, e só poderia ser encontrado à noite. "O peixe apareceu como um traço azul nadando rápido na rede", diz Britz. Não foi só um peixe difícil de encontrar, mas assim que ele foi retirado da rede morreu. Britz teve que improvisar, a fim de obter uma foto do peixe vivo para mostrar a sua coloração original.
"Criei um tanque-foto na margem do rio com uma câmera e flash prontos para disparar. Em seguida, George e eu entramos na água e puxamos a rede em direção a margem. Então, com o auxílio de uma colher grande retirei os peixes apreendidos da rede e transferi-os para o tanque-foto sem levantá-los para fora da água."


Semelhanças/Similaridades do menor peixe do Mundo
O Cyanogaster noctivaga ou simplesmente "viajante noturno de ventre azul" é pequeno, mas como ele se compara ao menor peixe do mundo, o que ajudou Britz em seus estudos de 2006?
"O maior exemplar de Cyanogaster coletado media 17,4 mm de comprimento, que é cerca de 7 mm maior do que o maior Paedocypris progenetica."
As duas espécies parecem preferir habitats semelhantes também. Britz, explica:
"O rio Negro no Brasil, assim como as florestas pantanosas de turfa da Ásia, têm águas negras ácidas e como os pântanos de turfa, abrigam um grande número de espécies em miniatura."
"O tamanho pequeno parece ser favorecido em águas de baixa qualidade e o Cyanogaster é outro exemplo à regra."

Dentes Estranhos
O esqueleto de peixe foi diafanizado sendo
mais fácil o estudo de suas estruturas, 
já que o animal é só 7 mm mais longo do
que o menos peixe do mundo.
O número e a forma dos dentes, ou dentição, é muito útil para nomear e classificar os peixes em especial os da ordem Characiformes, grupo na qual o  Cyanogaster pertence.
O barriga-azul tem uma dentição original, número e forma dos dentes no maxilar superior. Possui duas fileiras de dentes na maxilar superior, uma fileira interna e outra externa. Há apenas 4 dentes com várias cúspides na fileira interna e 1 dente cônico (apenas uma cúspide) na fileira externa. um único dente cônico na fileira exterior (marcada com uma linha pontilhada) e quatro dentes na fileira interior.
"Todos os outros membros da subfamília de Stevardiinae e, na verdade, a maioria dos membros da família Characidae têm um número e arranjo diferente de dentes. Então, isso ajuda a demonstrar que o nosso pequeno "barriga-azul" é algo completamente diferente, um novo gênero", diz Britz.

Mais Exemplares Encontrados
E não foi uma surpresa final. Embora a descrição científica do novo peixe ainda estava sendo preparada, novos exemplares do novo peixe foram descobertos.
Britz, explica: "Os meus colegas brasileiros encontraram alguns espécimes na coleção do Museu em São Paulo, (Museu de Zoologia da USP - MZUSP), que foram coletados em 1980, mas ainda estavam sem classificação."
Britz conclui: "Isto demonstra mais uma vez a importância de mantermos coleções de museus, em que as diversidades previamente desconhecidas ainda podem ser descobertas."

Referências:
1) Ichthyol. Explor. Freshwaters, Vol. 23, no. 4, pp. 297-318, 11 figs., 1 tab., March 2013 by Verlag Dr. Friedrich Pfeil, München, Germany.
2) Cyanogaster noctivaga, a remarkable new genus and species of miniature fish from the rio Negro, Amazon basin (Ostariophysi: Characidae). George M. T. Mattox, Ralf Britz, Mônica Toledo-Piza and Manoela M. F. Marinho.
Uma vez sacrificada e preservada, a cor é perdida.
Como neste espécime do Museu coletado pela expedição.
Cyanogaster noctivaga, novo gênero, nova espécie, foi descrita para o rio Negro, Brasil. É um nano peixe da Família Characidae e pertencente à sub-Famíilia Stevardiinae com base na presença de ii + 8 raios na nadadeira dorsal e quatro dentes na série interna do pré-maxilar. A nova espécie pode ser diferenciada de todos os outros membros da sub-família Stevardiinae por ter o número reduzido de i + 5 raios na nadadeira pélvica e a presença de um único dente cônico na fileira externa de dentes do pré-maxilar. Outros recursos de diagnóstico não-exclusivos de Cyanogaster dentro da sub-família Stevardiinae são a falta de dentes superiores, a linha lateral incompleta, a transparência do corpo e a conspícua região abdominal azul. Os machos maduros têm ganchos nas nadadeiras pélvicas e anal. Uma descrição osteológica detalhada do novo gênero e espécie se apresenta aqui com comentários sobre suas supostas relações.




Fonte:

Material procedente da coleção do Museu de História Natural de Londres. http://www.nhm.ac.uk/

Todas as imagens são cortesia do Museu de História Natural, Londres.

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